Augusto Blanco começou muito novo a trabalhar no Grupo Carvalho & Catarro e, aos 16 anos, já era encarregado da unidade de embalagens de cartão, que foi criada em 1959. O seu percurso profissional foi interrompido para prestar serviço militar, em Angola, durante 27 meses. Quando regressou, em 1970, juntou-se a três colegas do Grupo Carvalho & Catarro – António Poças da Rosa, Hélder Olival Pereira da Silva e Manuel Soares Domingues – para adquirir o referido negócio de cartão, pelo valor de 400 contos, e constituíram a sociedade Cartonarte, Lda., mediante escritura celebrada a 3 de Agosto desse ano.

O trabalho iniciou, desde logo, na Marinha Grande, com clientes de grande dimensão, captados, nomeadamente, na indústria do vidro. A Cartonarte acompanhou, durante este período,a transição da palha para o cartão canelado. “A embalagem estava a nascer em força na Marinha Grande e nós começámos a trabalhar para as grandes empresas, como a Ivima e a Crisal”, recorda, a propósito, Augusto Blanco, que tomou as rédeas da Produção e da orçamentação.

António Poças da Rosa ficou com a Área Comercial e Hélder Olival Pereira da Silva e Manuel Soares Domingues assumiram a Contabilidade.

No início da Cartonarte, os amigos tornaram-se sócios e foi dessas ligações de trabalho que também nasceu a Família de Augusto Blanco. Para além de encontrar o projeto profissional de uma vida, encontrou ainda Isaura Santos, a mulher que escolheu para casar e gerar descendência.

Ela discreta e reservada, ele extrovertido e bem-disposto. O enlace deu-se em 1975.

O único filho nascido do matrimónio, César Santos, é atualmente o Diretor-Geral da Cartonarte, onde trabalha desde 1998.

Nos primeiros anos de vida, a Cartonarte beneficiou da reduzida concorrência para exercer controlo sobre o preço e fornecer, além da indústria do vidro, os fabricantes de plásticos e de louça instalados na região, que faziam parte do leque de clientes de relevo da Cartonarte. Produziam-se, sobretudo, embalagens de fantasia (só 15% da produção era dedicada ao cartão canelado) e a empresa empregava, na altura, 25 pessoas.

Desde sempre que o ambiente entre os trabalhadores e a Gerência foi de confiança e proximidade, como numa família. “Momentos em que não havia nada para fazer, a gente entretinha-se com jogos”, recordam saudosos, Augusto Blanco e Isaura Santos.

A transição da ditadura para a Democracia, proporcionada pelo 25 de abril de 1974, aconteceu sem sobressaltos, mesmo quando, no período da tentativa de golpe de estado do 11 de março de 1975, a Cartonarte foi ocupada e a laboração temporariamente suspensa.

Ainda na década de 70, a instabilidade manteve-se após a saída do sócio Hélder Olival Pereira da Silva e, durante a primeira intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Portugal, num contexto de bens racionados, desemprego e inflação acima dos 20%.

O primeiro grande investimento da Cartonarte foi realizado em 1982, com a mudança para as instalações próprias, construídas num terreno que foi adquirido para esse efeito, o mesmo onde a empresa ainda hoje se encontra. A primeira expansão das instalações ocorreu dois anos volvidos e coincidiu com a aquisição da primeira máquina de impressão flexográfica e com o início do primeiro período de forte investimento em equipamento com tecnologia de ponta.

Toda a década de 80 foi de consolidação do negócio e a Cartonarte posicionou-se, como vinha sendo apanágio, à frente da concorrência, entre outros fatores, pela tecnologia utilizada.

“Fomos considerados, e ainda somos, a maior transformadora de cartão da Península Ibérica”, afirma Augusto Blanco.

E um degrau de cada vez, o crescimento fez-se com audácia, dedicação e capitais próprios, sem recurso a crédito. “Nunca pedimos empréstimos, até hoje. Ninguém de fora sabe a intensidade com que eu vivi isto. Saiu-me da pele, com sacrifício da Família”, salienta.

Foi também na década de 80 que se deu uma nova alteração na sociedade: afastou-se António Poças da Rosa.

Já com Portugal como membro de pleno direito da Comunidade Europeia, os anos 90 foram, então, anos de reorganização e modernização. Adquiriu-se nova tecnologia e, progressivamente, adotou-se a produção semi-manual, ao mesmo tempo que se procurava diversificar a carteira de clientes. Foi nesta fase que a Cartonarte começou a trabalhar para os setores do vinho e dos produtos alimentares, dos produtos de limpeza e dos produtos de higiene, entre outros.

Em 1996, a escassez de matéria-prima e a concorrência da China facilitaram a parceria com o Grupo Saica, de Espanha, que comprou 20% da sociedade a Augusto Blanco e outros 20% a Manuel Domingues. Na viragem para o novo milénio, assistiu-se a uma nova alteração: saiu Manuel Domingues e o capital ficou totalmente diluído entre Augusto Blanco e o Grupo Saica.

Prosseguiram então os investimentos e, em 2002,foram inauguradas as novas instalações administrativas e concluída a expansão dos armazéns de matéria-prima e produto acabado. A empresa obteve a certificação dos sistemas de gestão ambiental, segurança e qualidade, e continuou a munir-se de equipamentos de vanguarda. Já na transição da primeira para a segunda década do século XXI, apostou no aumento da capacidade instalada. A evolução constante apoiou-se na automatização e digitalização.

Em 2015, Augusto Blanco retirou-se das suas funções e o filho, César Santos, assumiu o cargo de Diretor-Geral. “Tenho muito orgulho que o César tenha continuado. É o meu braço direito”. Na Cartonarte desde 1998, César Santos passou pela área da Qualidade, foi Diretor de Produção e, posteriormente, Diretor Comercial, antes de iniciar as atuais funções.

Nos últimos anos, a Cartonarte tem feito um grande investimento na valorização dos recursos humanos, com estratégias sustentadas de formação e motivação dos colaboradores da empresa. Consolidou-se ainda a comunicação da marca, com o objetivo de evidenciar a missão e a visão da organização.

A Cartonarte passou a atuar, também, no mercado internacional através dos seus clientes, aprofundando o modelo de negócio baseado na modernização e na inovação e, já em 2022, com a nova expansão das instalações e os novos equipamentos – instalação de uma nova linha de corte de alta precisão de fabrico suíço e adoção de um novo sistema de alimentação automática de matéria-prima através de transfers automáticos a partir das linhas principais – abraçou o maior investimento da sua  história.